segunda-feira, março 02, 2009

xxviii: fernandinha e o seu jardim proibido.

A placa (enorme) anunciava, num néon excessivo, «as melhores farturas de Portugal». E, por baixo, rodeado de pequenas luzes que quase ofuscaram Zé Tó, uma placa desafiava gloriosamente a noite que havia tombado sobre a cidade de um momento para o outro: As Farturas da Fernanda!

No interior daquela caravana que se insinuava como uma menina filipina para um turista inglês, estava uma rapariga de ar inocente mas nervoso que comia um churro de chocolate. Ansiosa. Como se aquele fosse o último churro de chocolate num mundo em que os churros de doce de ovo eram mais omnipresentes do que a palavra Freeport.

Zé Tó não soube se foi apenas o desejo de arranjar uma Gretel para o seu Hansel no mundo maravilholeoso das farturas e churros que o levou a correr até aquela barraca. Só percebeu que havia uma força magnética que o obrigava a fazer aquilo. Como se ele fosse uma mulher de meia idade e aquele fosse o seu momento Mamma Mia.

De um só gesto, esticou o braço e puxou-a para si, agarrando-a nos seus braços outrora frágéis. Sentiu uma alegria enorme e, como se o mundo fosse um programa da malograda Cristina Caras Lindas, uma lágrima rolou desesperada pela face de Zé Tó.

Aquele era o primeiro momento verdadeiramente romântico desta odisseia. Da sua vida, no fundo. Ele não sabia o nome dela. Ela estava assustada de morte (e com um pedaço de churro a balançar ao canto da boca). Ele não sabia muito bem qual o próximo passo a dar. Mas estava apaixonado. Pela primeira vez.

E foi naquele momento que apareceu Paulo Gonzo. E com ele a P.S.P....

terça-feira, fevereiro 17, 2009

?

Mais capítulos virão. Num futuro próximo. Ou não.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

xxvii: mais vale um ovo Fabergé na mão que dois a voar.

"Manuela Ferreira Leite: uma Vida, uma Permanente" era a peça que impedia Zé Tó de continuar no seu refúgio. E porquê? Porque toda a gente sabe que é impossível ver a cara de Manuela Ferreira Leite ao perto sem entrar em combustão espontânea. Foi com um sentimento de pena que Zé Tó teve de abandonar aquele espaço a que chamou lar durante tanto tempo. "Por outro lado," pensou, "também já cansam as piadas sobre o La Féria".

Zé Tó não saiu dali, no entanto, sem levar uma recordação: um ovo Fabergé que um dos seus companheiros esqueletos segurava com as suas mãos fininhas, que mais pareciam pele e osso, excepto que já não tinham pele. Saiu do Politeama e enquanto se habituava à luz do dia que não via há meses, pensava no que ia fazer a seguir. Depois de tudo o que já passara, Zé Tó apercebeu-se que não iria conseguir encontrar a sua irmã gémea sozinho. Portanto, decidiu ir à Loja do Cidadão, que até era já ali e onde talvez o pudessem ajudar.

- Ora boa tarde, eu queria comprar um cidadão, se faz favor. - pediu Zé Tó, enquanto coçava a sua barba de 26 dias, o tempo que esperou para ser atendido.

- Esse assunto não é comigo. O senhor tem de se dirigir ali ao meu colega, no balcão ao lado. – respondeu a funcionária que procurava no teclado do computador a tecla Enter.

- Boa tarde, queria comprar um cidadão. – pediu Zé Tó novamente, desta feita ao colega do lado, que por razões óbvias, já não estava ao lado, mas à frente de Zé Tó.

- Ó meu amigo, o senhor não pode comprar cidadãos, isto aqui é para tratar de documentos importantes.

- Ó diacho, então mas isto é a Loja do Cidadão e não vendem cidadãos? Isso é publicidade enganosa! É o mesmo que uma loja de ferramentas vender alfaces!

E foi só depois de uma grande discussão, a qual concluiu com a ideia de que alfaces até poderiam ser usadas com lixas, que Zé Tó decidiu vir embora. Percebeu que arranjar um sidekick, o seu Robin, o seu Chewbacca, o seu Babalú, ia ser mais difícil do que pensava. Mas o destino tem destas coisas que nos surpreendem, - como, já diz o anúncio, a diarreia que pode aparecer nos momentos mais inconvenientes - e foi em plena praça do Rossio, ainda de ovo Fabergé na mão, que Zé Tó viu o seu deus ex machina.

quarta-feira, setembro 17, 2008

xxvi: super cal é frágil, explica o espião idoso.

Pelos vistos a telepatia de Lara Li parecia não funcionar com projectores e o espectáculo acabou naquele preciso instante. Zé Tó, chocado, vagueou pelo teatro enquanto o público aplaudia freneticamente o «final apoteótico» que La Féria lhes havia proporcionado (cada um tem o público que merece, temos pena). O nosso pobre herói apenas encontrou o sossego no lugar do ponto, apesar de ter de partilhar o exíguo espaço com dois esqueletos. Cada um com uma etiqueta: «Ponto do Amália» e «La Féria’s Boy Toy 2002». Zé Tó encontrou naquele local o espaço mais acolhedor da sua viagem. Depois de dormir na barriga da Simara qualquer outro local lhe parecia agradável. Ligou o pequeno transístor que trazia sempre consigo no bolso onde também guardava uma bisnaga de lubrificante (as más experiências forçam um rapaz a tornar-se prevenido) e uma fotografia da sua irmã gémea. A irmã que ele procurava desde o início da sua jornada. A verdadeira demanda da sua odisseia. Mas Zé Tó ainda estava em estado de choque. Ter visto a cabeça oval da k.d. lang portuguesa ser esmagada por um projector marcou-o mais do que ele esperava.

Passaram-se anos, passaram-se dezenas de novas produções La Feéricas («Mary Poppins», «101 Dálmatas», «A Dama e o Vagabundo» [Pedro Granger e Mafalda Veiga em destaque], «Carlos Castro – Uma Comédia Musical» ou «Maddie regressa a casa»), passaram-se momentos de convívio entre Zé Tó e os seus companheiros esqueletos. A vida continuava, como uma versão de Robinson Crusoe em cerca de 2 m². Até que (e com Zé Tó sabemos que um «até que» é bem mais do que uma reviravolta, é um Ike narrativo) Zé Tó descobriu qual iria ser a próxima peça em cena no Politeama. Zé Tó não podia continuar a ser a Elizabeth Fritz da Rua das Portas de Santo Antão...

terça-feira, fevereiro 13, 2007

xxv: o Aladino é a super-estrela do Intendente.

Zé Tó ansiava ver Lara Li, essa diva dos anos 80. Por isso, foi com grande emoção que, após a aterragem da nave espacial no lugar 22-F, Zé Tó desceu pelo escorrega insuflável, reparando de imediato que estava de facto no Paraíso da Carpete. Para quem desconhece, o Paraíso da Carpete é uma mega-store que vende todos os tipos de tapeçaria: carpetes, alcatifas, tapetes persa, tapetes de Arraiolos, tapetes que ilustram cenas campestres e que normalmente se penduram na parede e, mais recentemente, numa brilhante jogada de marketing, naprons. Zé Tó começou a passear pelos corredores à procura de Lara Li, mas, ao invés, encontrou um senhor de turbante que saltitava pela secção de tapetes mágicos.

- Olhe, desculpe, o senhor não é o Osama Bin Laden?

O senhor de turbante suspirou e respondeu:

- Não, eu sou o Aladino. As pessoas estão constantemente a confundir-nos. Até é fácil perceber porquê: ambos somos terroristas, ainda que eu só o seja na cama! Rau!

Zé Tó arrependeu-se de ter metido conversa com este sujeito; ainda assim, ainda perguntou:

- Olhe, já agora não me sabe dizer onde posso encontrar a Lara Li?

- Essa não é o travesti que costuma estar às Quintas-feiras na Esquina da Bernadim Ribeiro?

Zé Tó ficou desiludido. Pensava que Aladino o pudesse ajudar a concretizar o sonho de uma vida: beijar os pés à Lara Li. Desanimado, fez uma última pergunta:

- Sabe-me então dizer qual o caminho para o Cu de Judas?

- Ó meu amigo, não queira ir ao Cu de Judas. - disse Aladino, com voz de Claúdio Ramos. - Fui lá uma vez e essa bicha nunca mais me telefonou. A parva.

Aladino continuou a injuriar o Cu de Judas, até que Zé Tó reparou em algo brilhante no bolso das calças de Aladino. Era a sua lâmpada mágica e discretamente, Zé Tó tentou surripiá-la.

- Ui! – guinchou subitamente Aladino. Depois sorriu. – Seu malandro. Ainda nem trocámos números de telefone.

Inadvertidamente, Zé Tó continuara com a mão dentro das calças de Aladino, o que juntando à hiperactividade de Aladino, fez inevitavelmente com que o génio aparecesse. Este olhou para Aladino, para Zé Tó e para a mão ainda embaraçosamente dentro das calças e disse:

- Ah não! Nem penses que a noite de ontem se vai repetir, Aladino.

- Ó Génio, - chamou Zé Tó, finalmente retirando a mão da virilha de Aladino. – será que eu podia ver essa grande senhora, a Lara Li?

- Desejo concedido!

E assim, Zé Tó viu-se teletransportado para o Politeama, onde estava em cena a última adaptação de Felipe La Féria, “Jesus Cristo Super-Estrela”. De início, Zé Tó não percebeu porque havia sido teletransportado para ali, mas ao ouvir…

Então tu és o Cristo,
O grande Jesus Cristo,
Prova-me que és divino,
Transforma a minha água em vinho.
Só tens de o fazer
P’ra eu ficar a saber
Que és o Rei dos Judeus!


…de imediato reconheceu a linda voz de Lara Li, que fazia o papel de Rei Herodes.

Então tu és o Cristo,
O grande Jesus Cristo,
Prova-me que não és choné.
Atravessa a minha piscina a pé.
Se o fizeres por mim,
Eu deixo-te ir, sim.
Vamos lá, Rei dos Judeus!


Uma lágrima correu pela face de Zé Tó. Ele juntou as mãos e agradeceu aos céus este momento. Mas a felicidade não dura para sempre e um dos projectores do palco pareceu concordar, ao achatar a Lara Li num dos momentos altos do espectáculo.

sábado, fevereiro 10, 2007

xxiv: 10 semanas?! era dar um tiro à mãe e prontos!

Zé Tó encontrava-se numa nave espacial. A nave seguia em direcção ao Cu de Judas a uma velocidade estável e apenas de vez em quando se sentia alguma turbulência. Ao seu lado ia Lídia Jorge que aproveitava para açoitar freneticamente "adeptos" do Não. Havia uma fila tremenda à espera de sofrer sevícias corporais. Laurinda Alves disfarçava-se, tirando o bigode, para poder voltar a entrar na fila. No banco de trás, quatro embriões de dez semanas jogavam canasta e discutiam sketches do Sabadabadu. (não liguem àquilo que os do Sim querem fazer crer. É este o grau de desenvolvimento de um embrião às dez semanas: é uma vida humana, tem vícios, tem mau gosto, tem casa própria e renegou os próprios pais mesmo antes de nascer) Zé Tó alimentava a secreta esperança de entrar no Cu de Judas pela porta grande. A de trás. Mas a viagem, apesar de correr sem percalços até ali, começava a ser incómoda e cansativa. Os embriões faziam muito barulho e Zé Tó começava a querer ir contra a lei (mesmo sabendo que não seria preso). Naquele momento ouviu-se um zumbido forte seguido de uma voz viril: "Olá, sou Solange F e tomei este avião. A rota será alterada. Já não vamos em direcção ao Cu de Judas mas sim em direcção ao Paraíso da Carpete. Vá! Agora tudo a cantar: 'Vem cá tenho sede quero o teu amor de àgua fresca'".

E foi assim que Zé Tó se viu, uma vez mais, agarrado pelo destino em direcção a um dos pontos mais obscuros do Universo: não, não é a Tricana. É a Casa de Lara Li.

quinta-feira, setembro 21, 2006

xxiii: a simara é um elefante branco.

- Avozinha, porque tens uma boca tão grande?

A avozinha nem respondeu. Quando deu por isso, e qual conto infantil, Zé Tó estava dentro da barriga da avozinha que era nada mais nada menos que a Simara, que após meses e meses a comer uma ervilha, uma folha de alface e o próprio prato por dia, não resistiu e teve de petiscar qualquer coisa.

Já no estômago de Simara, Zé Tó acendeu um isqueiro que encontrou no bolso do casaco. E depois arrependeu-se porque o devia ter tirado do casaco primeiro, tendo ficado com o bolso um pouco chamuscado. Ao acender o isqueiro, já bem erguido no ar, qual concerto de Bryan Adams, Zé Tó mandou um berro devido ao que viu. Gepetto, em tronco nú, perseguia um Pinóquio também desnudado gritando ‘QUERES OU NÃO QUERES SER UM RAPAZ DE VERDADE?!’; mais à frente, como quem vai para o duodeno, estavam os irmãos Hansel e Gretel vestidos de cabedal preto e empunhando chicotes à procura de uma boa palavra de segurança; o flautista de Hamlin atraía criancinhas inocentes e mostrava-lhes a sua flauta, e o príncipe buscava a sua Cinderella, numa desesperada tentativa de satisfazer o seu fetiche por pés.

Zé Tó pensou como a vida pode ser um conto de fadas. E depois pensou que a única maneira de sair de dentro da Simara envolvia dejectos humanos e um ambientador para a casa-de-banho. Olhou em todas as direcções à procura de algo que pudesse utilizar para escapar de uma outra maneira. Pegou no chicote de Hansel, no sapato da Cinderella e numa ervilha meio digerida e, lembrando-se do episódio dezoito da quinta temporada de MacGyver, fez uma bomba. Trinta segundos depois, e após uma explosão semelhante ao Big Bang, Zé Tó reparou que o que restava da perna direita de Simara tinha adquirido o seu próprio campo gravitacional e os restantes músculos, ossos e globos oculares seguiam uma órbita heliocêntrica ao redor desta.

‘Criei o universo.’, pensou Zé Tó. Foi então que reparou que tinha o nariz de Simara na mão. Estava intacto. Colocou-o no bolso. Sabia que ainda lhe havia de ser útil. Nada mais a fazer ali, Zé Tó decidiu voltar para trás e ir em direcção ao Cu de Judas.

xxii: Gerontofilia, silêncio, calma
Feitiçaria da tua alma
Passo a passo, sem ter medo
Abrimos, soltámos o nosso segredo.

Se Zé Tó parasse naquele momento, a meio caminho entre o Perigo!, que já tinha deixado para trás juntamente com um cotonete, e a Morte! sabia que não chegaria a Vila Velha de Rodão à hora da festa popular. Não teria direito à tradicional sopa do cozido nem à típica fritada de carne de rameira. Nem poderia atirar uma pedra no espectáculo de apedrejamento da mulher adúltera. Foram estes pensamentos que o fizeram acelerar o passo em direcção à terra da felicidade, onde o homem pode espancar uma mulher, onde o Homem pode ser mulher, e homem, ao mesmo tempo. Mas não era facilmente que se passava pela Morte!. Atrás das casinhas dos souvenirs ou recuerdos (depende do grau de bimba e pimbalhice) escondiam-se velhas sedentas não de sangue nem de ouro mas sim de sexo. A Morte! era mais lasciva e luxuriante que um bordel da Avenida Duque de Loulé a partir das 22 horas e Zé Tó sabia-se incapaz de resistir às ancas flácidas e repugnantes das velhas que se bamboleavam semi-nuas ao som de um remix de Shakira com Rita Guerra ("As Hips do Cavaleiro Andante don't Lie"). Mas foi a aparição de uma idosa vestida de samarra (apenas) que o fez desistir da ida para Vila Velha de Rodão, das suas meretrizes fritas e das suas mulheres devassas apedrejadas com pedrinhas pequeninas. Muitas. Era o olhar de carneiro bem morto (ela aparentava 200 anos) e a saliva que escorria pelos cantos da boca que fascinaram Zé Tó. Até porque ele sempre tinha achado, enquanto comia a papa e assistia ao programa do Avô Cantigas, que a avó dele era uma boazona.

segunda-feira, agosto 14, 2006

xxi: voa, croquete, voa!

Analepse: nuvens escuras e relâmpagos cercam um castelo no alto de uma colina apenas alcançável através uma ponte de madeira pouco estável sobre um precipício. Fade-in. Dentro do castelo, um senhor de jardineiras, camisa vermelha aos quadrados e cabelos brancos trabalha arduamente na sua obra. Por entre o troar dos trovões, um riso maléfico e tresloucado cresce de intensidade.

- FUNCIONA! MWAHAHAHAHAHAHAHHA!!!

O senhor de jardineiras, camisa vermelha aos quadrados e cabelo branco afasta-se, deixando ver uma máquina do tamanho de um rebuçado, que de cinco em cinco segundos, expele uma nuvem de fumo. Por cada nuvem de fumo, vê-se uma sombra. Em cada sombra, vê-se a mesma silhueta do senhor de jardineiras, camisa vermelha aos quadrados e cabelos brancos.

- Vão, meus lindos! Façam com que o mundo não se esqueça de mim outra vez! Hi hi hi hi hi!

E assim nasceu o exército de Avôs Cantigas.

***

Zé Tó abriu os olhos e ficou chocado com a cena que se apresentava diante dos seus olhos. Quatro Avôs Cantigas seguravam-no, enquanto um quinto se preparava para lhe dar um murro no estômago. Ao redor, outros Avôs Cantigas destruíam a paisagem e atacavam Mickael Carreira como se não houvesse amanhã. Ouvia-se uma gargalhada malévola que mais parecia vir do céu. Ao olhar para cima, Zé Tó viu o que supunha ser o verdadeiro Avô Cantigas montado no Palhaço Croquete que abanava freneticamente umas folhas de palmeira, logo, planando.

Zé Tó contorcia-se de dor à medida que o Avô Cantigas número 567/32 lhe esmurrava o estômago repetidamente, enquanto cantava “Eu sou o Avô Cantigas / Todas as crianças são minhas amigas.”. Foi ao ouvir estas palavras sábias que Zé Tó, num rasgo de inteligência vinda dos confins do seu subconsciente, perguntou a este Avô Cantigas:

- Mas se tu és o Avô Cantigas, quem são estes quatro que me seguram?

Logo responderam os Avôs Cantigas que lhe seguravam os braços e as pernas:

- Ei, EU é que sou o Avô Cantigas!

- Mas EU é que sou o Avô Cantigas!

- Não, EU é que sou o Avô Cantigas!

A discussão chegou a tal ponto que os clones começaram a atacar-se uns aos outros, culminando na sua destruição absoluta. Ironicamente, o homem que procurava relembrar às pessoas quem era, viu o seu exército morrer atormentado por uma crise de identidade.

- NÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO!!! - exclamou o verdadeiro Avô Cantigas. - Maldito sejas! Perseguir-te-ei até ao fim dos teus dias! – e partiu para longe mais o seu Croquete.

Zé Tó decidiu abandonar aquela cena desoladora e, ainda dorido, começou a andar. À medida que andava, a paisagem à sua volta ia retomando a sua normalidade. É claro que Zé Tó continuava a sua jornada no País da Farfalhuda e aí normalidade significava coelhos com a cabeça do José Rodrigues dos Santos saltitando planície fora ou acasalando com javalis com a cabeça da Judite de Sousa.

Poucos passos depois, Zé Tó chegou a uma bifurcação.

odisseia cap21


Zé Tó, obviamente, virou à direita.

sexta-feira, agosto 11, 2006

xx: ora bamo' lá ber: o senhor bira à direita, leba com uma tacada na cabeça e prontos! 'tá no País da Farfalhuda.

Zé Tó tinha um medo mortal e mortífero de tunas. Principalmente daquelas que não conseguem decidir que mulher lhes convém: se a gorda se a magra, se a casada ou a solteira, se a incontinente se a flatulente. Zé Tó começou a correr (e enquanto corria pensou como há muito não caminhava, simplesmente) mas a tuna, ou aquilo que o perseguia pelas planicies alentejanas, teimava em segui-lo à mesma velocidade. E Zé Tó estava cansado. E sabia que no Alentejo não havia espaço para oásis. Parou. Respirou. Levou uma tacada de golfe na nuca e caiu, a sangrar. Acordou num mundo de fantasia em que miniaturas do Michael Jackson dançavam tango acompanhados por gigantes que se assemelhavam à Io Apoloni mas com um problema de macrocefalia. De um lado viam-se canecas do Batatoon a flutuar, do outro janelas abriam-se para vales coloridos onde rituais de acasalamento entre pinguins e várias Serenellas Andrade se sucediam a uma velocidade impressionante. À frente de Zé Tó estava um palco. Nesse palco acontecia um mega-concerto (do género do Live Aid, Live 8, Natal dos Hospitais ou Páscoa na Cadeia de Tires). Num só palco era possível ver Carmen Miranda, Roberto Carlos, Anita Guerreiro (de seu verdadeiro nome Bebiana Cardinali) às cavalitas de Beatriz Costa, Amália Rodrigues e Poupas Amarelo, Isabel Angelino (que balançava uma cadeira em círculos com os dentes como no anúncio da Pasta medicinal Couto), Glória de Matos, Filipe La Féria, Ágata, Mickael Carreira, Merche Romero (sob o efeito de suplementos energéticos) e, em glória, vestido de anjo e em cima de um altar com luzes de Natal, o cantor Marante. Em conjunto, cantavam uma versão tribal africana de "Something" dos Beatles. Zé Tó não entendia onde estava até ver uma placa feita de marshmallows onde se lia: País da Farfalhuda. Zé Tó sentiu-se feliz e começou a correr pelos campos verdejantes juntamente com os clones do Carlos Paião que tinham surgido das tocas. Mas para Zé Tó, já sabem, a felicidade dura pouco. Foi quando este começou a sentir uns vultos a perseguirem-no que ele percebeu que Elsa Raposo tinha razão quando disse: "Há quem não tenha pernas, braços, quem não tenha filhos. Isto é uma migalha. E depois vem um bichinho e come." Ensimesmado pela profundidade reflexiva desta linha de pensamento Zé Tó deixou-se apanhar e fechou os olhos com força. Logo agora que tinha chegado ao País da Farfalhuda. Onde as nuvens são iguais às outras, mas feitas de goma. Onde os palhaços animadores de festas têm outro nome: pedófilos.

terça-feira, agosto 08, 2006

xix: terão o homem de capa negra da sandeman e a mulher gorda acasalado?

Foi perante uma grande audiência, que Zé Tó fez uma das suas maiores actuações de sempre. No fim, até recebeu uma ovação de pé. Zé Tó agradeceu e fez uma vénia. Foi então que os seus olhos, roubados a uma criança como se fossem chupa-chupas, caíram, saltitando e rolando pelo chão até acabarem numa sarjeta. A verdade é que os olhos eram demasiado pequenos para encaixarem devidamente nas suas cavidades oculares. Zé Tó partiu então à procura dos seus antigos olhos às apalpadelas, mas em vão. Desistiu dessa sua busca e decidiu comprar um olho de vidro e uma pala que estavam em promoção numa banca daquelas que se vêem à beira da estrada como quem vai para o Algarve pela estrada velha não pela auto-estrada que por aí já não se vê nada uma pessoa vai é a duzentos à hora nem parece que está de férias porque uma pessoa que está de férias quer é ir devagar para ver a paisagem e os camionistas peludos que exibem os seus fios de ouro, galhardetes do Benfica, posters de mulheres nuas e luzes de Natal enquanto estacionam as suas máquinas no parque de estacionamento do restaurante no Canal Caveira.

Zé Tó, viu-se assim, através de uma digressão literária, transportado até ao Baixo Alentejo, a caminho do Algarve, esse antro de turistas estrangeiros que fazem nudismo e prendem os filhos com trelas. Foi ao chegar à linha ténue que divide o Alentejo do Algarve, que Zé Tó reparou que o homem de capa negra da Sandeman já não estava lá.

“O mundo é efémero.”, pensou. “Para onde terá ido o homem de capa negra? Que caminhos tomou? Terá casado e tido filhos? Pequenos seres de olhos esbugalhados e de capa negra em número suficiente para formar uma tuna?”

Nisto, ouviu-se ecoando ao longe, ainda que nitidamente:

“A mulher gorda a mim não me convém
o me convém
Não me convém…

domingo, agosto 06, 2006

xviii: a tanga de floribella esconde o quarto segredo de fátima.

Descalça e com um pequeno buço escondido por detrás de um chupa-chupa de sabor a tutti-fruti, o fantasma de Irmã Lúcia ia murmurando em aramaico o argumento da Paixão de Cristo. De vez em quando recitava diálogos do filme Braveheart, alturas em que aproveitava para levantar o hábito e mostrar aos transeuntes a sua roupa interior de marca Floribella. "Não tenho nada, mas tenho tenho tudo, sou rico em sonhos mas pobre pobre em ouro". Slogan de verões por vir. O refrão escrito na parte da frente. Cara da Floribella estampada na parte de trás. Fio dental, assinale-se. Agora, transparente e inodora, a Irmã Lúcia estava cada vez mais perto da Virgem. Zé Tó olhava para ela, no entanto, com outros olhos. Literalmente. Havia arrancado os seus e roubado uns a uma criança obesa que se passeava pelas redondezas e tentava ver a cara de cu da Floribella. Através do olhar de uma criança ainda nova mas em efervescência lasciva Zé Tó olhou para Irmã Lúcia e galgou para cima do fantasma com uma fúria que se lhe desconhecia. A última vez que Zé Tó havia deixado à solta as suas feromonas desta forma fora numa noite em que, enquanto assistia ao Mini Chuva de Estrelas, agarrou numa almofada com carinho em honra de uma Tina Turner em miniatura. O fantasma de Irmã Lúcia não sabia o que havia de fazer. O contacto mais próximo que tinha tido com um ser humano (sem ser com as freiras no Carmelo de Coimbra) foi com o seu pequeno primo Francisco Marto e toda a gente sabe o resultado disso. E para quem não sabe ficam apenas três palavras e um bocado: Quarto Segredo de Fátima. A vida dos pequenos pastores na Cova de Iria não é muito diferente da vida de um cowboy na montanha Brokeback. Ponto da situação: Zé Tó revela-se pela primeira vez um ser sexual, ainda que estando com um fantasma. Irmã Lúcia, ou o que resta imaterialmente dela, espanta-se com um fulgor que já tinha esquecido. A dúvida instala-se entre os presentes, que cada vez são mais: Isto é amor ou apenas um ensaio do programa Fiel ou Infiel?

segunda-feira, julho 31, 2006

xvii: o regresso da irmã lúcia mas não do panado.

- QUANDO ME DISSESTE QUE IA FAZER O JOGO DA MALA, NUNCA PENSEI QUE FOSSE ISTO, SEU SACANA DE MERDA!!! – gritava Jorge Gabriel, a sua voz abafada pelo cabedal da mala onde se encontrava.

Zé Tó sentia-se embaraçado. Todos no Expresso ouviam os gritos do apresentador de televisão e olhavam para Zé Tó como se este comesse criancinhas.

Aparentemente, Paulo China havia desancado no Jorge Gabriel por este lhe ter comido o último donut com pepitas de chocolate. O apresentador nunca pensou que tal acção pudesse desencadear a transformação de Paulo China no esverdeado Incrível China. “CHINA…QUER…DONUT!!”, foram as últimas palavras que Jorge ouviu, antes de acordar dentro de uma mala num Expresso a caminho de Fátima.

Ao chegar ao seu destino, Zé Tó teve finalmente oportunidade de abrir a mala e retirar, de entre boxers e vestidos de gala, o Jorge Gabriel, que continuava a barafustar.

- Filho de uma mãe... – murmurou Jorge, enquanto retirava da boca uma peúga branca com a raquete da Naike.

Zé Tó que continuava a ser olhado e comentado por toda a gente que passava, incluindo um homem sem dentes, sem braços, de joelhos em sangue e com restos de velas nos cantos da boca, fartou-se. Pegou no Jorge Gabriel e exibindo-o, pregou:

- OLH’Ó APRESENTADOR DE TELEVISÃO A 50 ÉRIOS!! É do melhor que há! É A 50 ÉRIOS!

Logo acorreram velhotas a querer comprar o Jorginho.

- OLHE AS FOTOS DOS MEUS NETOS!! – gritavam umas.

- EU QUERO GANHAR O CABAZ!! – gritavam outras.

Zé Tó vendeu-o rapidamente e contando o dinheiro, dirigiu-se ao Museu da Cera. Quando levantou a cabeça, viu que, lado a lado caminhando com ele, ia o espírito da Irmã Lúcia.

terça-feira, julho 25, 2006

xvi: será a gordura de paulo china reutilizada pelo museu da cera?

Zé Tó sorriu, de verdade. Mas esse sorriso desapareceu de seguida. Quando releu a mensagem e se apercebeu que iria ter de cumprimentar Paulo China. Ex-gordo, ex-amigo de futebolistas, ex-designer de moda e profissional da restauração. Zé Tó sabia que atrás desse indivíduo viria uma manada de fotógrafos. E sabia (raios e coriscos) que teria de se fazer fotografar com Paulo China para que este conseguisse saciar a sua gula de protagonismo, vedetismo e para acalmar o seu ardor na zona das virilhas. Zé Tó viu no céu a sua salvação. Uma avioneta passava com a inscrição "Em Fátima visite o Museu da Cera!". O dilema não era simples: Paulo China e os seus sovacos rapados ou um museu com motivos religiosos onde o cheiro a cera se misturava com o cheiro a bafio das velhas beatas? Quando deu por si, no espaço de uma elipse sem sentido, no Expresso para Fátima, Zé Tó percebeu que regressava a um local onde não tinha sido feliz. E pensou profundamente e profundamente até bater no fundo do pensamento. E acordou. Acordou para descobrir, assustado e suado nas zonas côncavas do corpo, que Jorge Gabriel se tinha escondido numa mala e que gritava histérico mas extrema e irritantemente feliz, como sempre, no compartimento das bagagens. Não era difícil perceber o que ele gritava.

segunda-feira, julho 24, 2006

xv: anita zé tó vai aos correios

De súbito, Zé Tó teve uma epifania. Não era do Fernando Mendes que ele precisava mas sim do Jorge Gabriel. Esse grande senhor que antes punha lagartos na cabeça das pessoas e agora é comentador barra treinador de futebol, numa das maiores evoluções de carreira alguma vez vista, podia ajudar Zé Tó a fazer a transição do Monopólio dito normal [apesar do senhor de bigode e cartola por diversas vezes se ter insinuado a Zé Tó] para o Monopólio Especial do Mundial de Futebol.

Zé Tó elaborou, portanto, uma carta explicativa da sua situação, dirigida ao respeitável Jorge Gabriel e que dizia o seguinte:


"Exmo. Sr. Jorge Gabriel,

Venho por este meio requerer o seu auxílio nesta minha luta por um lugar no mundo do futebol.

Desejo tornar-me um empresário de sucesso neste ramo e sei que só o senhor me poderá ajudar, devido à sua vasta experiência como treinador de futebol e apresentador de programas da manhã (não é para me gabar mas tenho em formato VHS todos os episódios da Praça da Alegria desde que o senhor substituiu o Manuel Luís ‘o-mundo-gira-à-minha-volta’ Goucha).

O meu número de telefone é o 91 xxx xx xx*. Por favor, contacte-me o mais rapidamente possível.

Sem mais assunto,

Com os melhores cumprimentos,

Zé Tó”


A resposta não tardou a chegar por SMS:

"Zé Tó, vouh a kaminhuh. levuh Pauluh Xina cumiguh. a-té jáááááááá.”

E Zé Tó sorriu.

*Para proteger a privacidade de Zé Tó, os autores não divulgarão o seu contacto.

quinta-feira, julho 20, 2006

xiv: o fernando mendes é o estádio de Gelsenkirchen.

Zé Tó era agora empresário mas um empresário peculiar. Era um ex-mutilado, ex-travesti (porque a vida de gestor não se compadece com delírios de cross-dressing), ex-retornado sem aparato. Ex-tudo e mais alguma coisa num carrossel a que alguns chamam "vida", outros chamam "isto", mas que Zé Tó e Cristina Caras Lindas intitulam "dádiva de Deus Nosso Senhor". Na sua peculiaridade residia o charme da sua figura. Na caspa residia o motivo de repulsa (A caspa era muita e os ombros demasiado pequenos.)

A sua vida no seu escritório, localizado entre a Rua Do Ouro e o Rossio, que entretanto tinha extorquido a um velho empresário do tempo da outra Senhora (não, não é o Carlos Castro, é outra), era passada a jogar o jogo das minas (lembrando os seus dias de prótese na perna) no seu computador enquanto uma jovem russa lhe limava as unhas dos pés e massajava-lhe o mindinho ("em movimentos circulares").

Até que algo aconteceu! Zé Tó estava a usufruir de um banho turco fornecido pela Companhia das Águas quando recebeu a pior notícia da sua vida: vinha aí o Monopólio Especial do Mundial de Futebol! Que iria substituir o Rossio pelo Estádio de Gelsenkirchen e a Companhia das Àguas pela Empresa Cortadora de Relvas. E mesmo as habituais notas por cheques-desconto em casas de prostituição clandestinas. Era o desastre para Zé Tó e no entanto ele só conseguia pensar numa conversa que tinha visto na Televisão, no programa de Fernando Mendes. "Então diga-me uma palavra que rime com sapataria?" (indecisão) "Pão".

terça-feira, julho 11, 2006

xiii: aqui o estacionamento é livre.

Ao chegar a Sta. Apolónia, Zé Tó parou. Parou porque as duas ex-freiras em cuecas e o senhor de barbas e túnica branca (e sandálias) que carregava nos braços um anão que não era maior do que uma colher de pau pararam. Zé Tó, intrigado, mas sem largar o machado, dirigiu-se a eles e perguntou-lhes delicadamente porque haviam parado. Eles não responderam; ao invés, arrancaram-lhe o machado da mão e começaram a desancar nele. No Zé Tó. Não no machado. Isso não faria sentido. Idiota, porque raio pensaste que seria no machado? ‘Tás parvo(a)?

Zé Tó levou uma sova da qual não se iria esquecer tão cedo. Não tanto pela gravidade das feridas, mas pela situação caricata de que estava a ser alvo: duas ex-freiras em cuecas pontapeavam-no enquanto um homem de túnica branca e sandálias arremessava contra ele um anão de nome Tadeu, pouco maior que o Marques Mendes.

Após duas horas, o homem de sandálias, o anão e as duas ex-freiras em cuecas desistiram de bater no pobre Zé Tó e decidiram ir para o Elefante Branco, onde ficaram durante duas horas, altura em que o Corpo de Intervenção chegou com o propósito de fazer uma rusga.

Quanto a Zé Tó, este estava no chão. Com a vista enevoada, pareceu-lhe ver um vulto feminino. Era Ana Malhoa. Ela ajoelhou-se perto dele e colocou a sua mão no dedo mindinho de Zé Tó. Subitamente, ela desapareceu e Zé Tó estava curado. Levantou-se. Até a perna lhe tinha crescido de volta. Compôs-se: atirou a prótese para o lixo, ajeitou a gravata e limpou a espuma que saía da sua boca. Olhou em redor e reparou que um homem se aproximava.

- Ora boa tarde, são dois contos, se fizer favor. – disse o homem.

Zé Tó ficou embasbacado, a olhar para este homem.

- Dois contos, por obséquio. – repetiu o homem que retirou uma laranja do bolso e a começou a descascar.

- Porquê? – perguntou, finalmente, Zé Tó.

- Está só de passagem e esta estação pertence ao outro jogador. Se fizer favor… - pediu o homem, estendendo a mão.

Zé Tó percebeu. Começou a fugir. Passou pela Rua Augusta e pelo Rossio, só parando na Avenida Fernão de Magalhães. Viu que vinha um outro homem atrás dele.

- Ó home’! Tome lá os seus dois contos da Partida!

Zé Tó recebeu os dois contos, ainda que os tivesse de devolver de imediato ao senhor de Sta. Apolónia. Felizmente a Avenida onde ele se encontrava não pertencia a ninguém. Zé Tó comprou-a ele mesmo. Três voltas depois, comprou o Campo Grande e construiu um hotel. Por duas vezes, teve de ir para a prisão, de onde saiu de ambas as vezes devido a um double de três.

Zé Tó tornou-se, assim, um empresário de sucesso. Mas um dia, parou para pensar. Quem seria o seu adversário, adversário esse que parecia possuir todas as estações assim como a companhia de electricidade e a companhia das águas? Porque nunca lhe tinha calhado um double de setes? Porque nunca lhe tinha saído uma pergunta sobre Artes & Espectáculos?

domingo, julho 09, 2006

xii: Os ABBA e suas tendências homicidas.

Quem seria aquele homem de barbas que, chorando, lhe dizia ser seu pai? Será que seria, empolgado pela polémica do Código Da Vinci, Jesus Cristo à procura de descendência forçada? Se Audrey Tautou pode ser filha dele, Zé Tó também. Pelo menos foi o que ele pensou. Mas reparou naquele instante que o homem barbudo era afinal estrábico e estava a olhar para um pequeno rapaz anão que se encontrava a jogar à macaca com duas freiras carecas, do outro lado da rua. Zé Tó chorou também. Zé Tó sentia que a vida lhe pregava rasteiras. Quando surgia a oportunidade de roubar um fémur à Irmã Lúcia, ou ao seu esqueleto, a vida desviava-o para outra zona do país. Quando surgia oportunidade de se tornar herdeiro da família biblíca um qualquer anão amigo de noviças punha-se à sua frente na sucessão hereditária. Zé Tó, conhecido como Mariema, Carlos Ramires ou Lurdinhas das Fotocópias, tinha atingido o seu ponto de saturação e, vindo das entranhas de Santa Comba Dão, o espírito do Mal entranhou-se no seu corpo anteriormente inocente e fê-lo agarrar num machado, que num acaso acidental tinha caído da varanda de um carniceiro sociopata que vivia no prédio em frente. De machado na mão e ar no peito, Zé Tó começou a murmurar algo que, de início, parecia uma reza mas que começou a aumentar de volume até se perceber finalmente que era uma versão em espanhol do Gimme Gimme Gimme (dos ABBA). "Dame Dame Dame Amor esta noche!" e Zé tó arrancava em direcção ao anão, às freiras e a Jesus Cristo. O machado oscilava nas suas mãos mas ele continuava a correr. As freiras despiram as roupas para correrem melhor e Jesus Cristo agarrou no pequeno anão, que se chamava Tadeu, para que este não ficasse para trás. A imagem arrepiava pela surrealidade. Uma perseguição assombrosa. Assim: Zé Tó corria com um machado na mão atrás de duas mulheres em cuecas (perde-se a roupa perde-se a fé) e de um homem de barbas e túnica branca (e sandálias) que carregava nos braços um anão que não era maior do que uma colher de pau. Por cada rua, estrada, avenida, beco, praça, largo, travessa por que passavam ficava no ar uma atmosfera de programa da manhã: todos conseguem ver o que está acontecer mas ninguém percebe porquê. Nenhum deles parecia cansar-se, a nenhum deles parecia faltar o ar. Tudo isto a caminho de Sta. Apolónia.

terça-feira, fevereiro 28, 2006

xi: o pai, o filho e o bonga.

Mais uma vez, Zé Tó/Mariema corria. Mas corria a valer. Corria tanto que teve um dejá vu. Sentia que já havia corrido assim antes. Os adolescentes em fúria corriam também, atrás dele, empunhando pedras, tochas e forquilhas. “DIZ-NOS AS HORAS! NÓS SÓ QUEREMOS SABER QUE HORAS SÃO!”, gritavam eles. Foi só na estação de serviço da Mealhada, que Zé Tó/Mariema os despistou, escondendo-se atrás de um escorrega. Vendo que já estava a salvo, Zé Tó/Mariema decidiu ir para casa. Conseguiu arranjar boleia e assim que chegou a casa, viu que o carteiro já tinha passado por lá. Sentiu-se devastado. A visita do carteiro era o seu momento alto do dia. Todos os dias, Zé Tó via o carteiro inserir cuidadosamente a sua correspondência na ranhura. E suspirava.

Foi ao ler uma das suas cartas, que Zé Tó começou a choramingar. O processo de mudança de nome não havia sido aceite e Zé Tó teria de ser Zé Tó para sempre. “Ó, triste de mim! Ó, o meu infortúnio!”, disse em voz alta, “Não serei eu digno de tal felicidade? Estarei eu destinado a ser um homem visgolho, com uma prótese na perna e um panado colado à cabeça para toda a eternidade?”. E então, Zé Tó, numa atitude que desafiaria a lei do Universo, decidiu comer o panado. Seria apenas um homem visgolho e com uma prótese na perna e não um homem visgolho com uma prótese na perna e um panado colado à cabeça.

Já conformado por não ter podido recolher um souvenir da Irmã Lúcia, Zé Tó decidiu que ia comer peixe ao jantar. Dirigiu-se à peixaria para comprar um belo de um chicharro para assar no forno com umas batatinhas assadas. Ia a passar pela bancada das fanecas e das xaputas, quando foi de encontro a um homem de barba. Mas o mais surpreendente foi a reacção do homem. Foi com uma lágrima no canto do olho, já dizia o sábio Bonga, que o homem de barba exclamou: “MEU FILHO!”.

sábado, fevereiro 25, 2006

x: a irmã lúcia e um panado.

Zé Tó entrou no carro do médico licenciado mas que apenas falava ucraniano e fechou a porta com muita força como as divas faziam (e Mariema era uma diva). Olhou pelo ombro para se despedir de Olival de Basto e do seu chapéu de Lisboa Nova como acontece nos filmes, mas reparou que tinha um bocado de panado de perú preso à sua peruca encaracolada e platinada. Ao tentar tirá-lo para matar a fome arrancou acidentalmente o seu capacho efeminado. Chocado, o médico licenciado mas que apenas falava ucraniano expulsa Zé Tó/Mariema do carro. Ele sabia que estava a viajar com um travesti mas julgava que ele tinha a decência de ter cabelo verdadeiro. "Este mundo está perdido", pensou. De seguida disse em voz alta: "Saiba que tinha programado um fim-de-semana em Fátima para assistir à cerimónia de transladacção da irmã Lúcia!" Assistiu-se desta forma a um duplo milagre: o médico licenciado mas que apenas falava ucraniano falou num português perfeito (qual Glória de Matos* com cólicas) ao mesmo tempo que se assistia ao nascimento de um novo estilo de dança jazz que incluía cerimónias de beatificação de pastorinhos que viram a Senhora, serralheiros que viram o seu dedo decepado em pleno trabalho e marinheiros que cantaram o "In the navy", e que simultaneamente juntava num só palco coristas, militantes do CDS-PP, gémeos siameses e casais só com três pernas.

O médico licenciado mas que apenas falava ucraniano embora afinal conseguisse falar num português perfeito arrancou no seu carro, que de forma bizarra se havia transformado numa carroça puxada por três pigmeus, deixando Zé Tó à beira da estrada com dois pensamentos na cabeça: arranjar boleia para Fátima com o objectivo de assistir à cerimónia de transladacção da Irmã Lúcia (e talvez roubar um fémur como souvenir) e acabar o bocado de panado que ainda tinha na cabeleira.

Mal sabia Zé Tó/Mariema que a boleia que apanhou, minutos depois, de um camionista barbudo o levariam não para Fátima mas para o Porto, onde um bando de adolescentes em fúria o esperavam com pedras.

*Glória de Matos é o demónio em (dis)forma de gente.

sexta-feira, novembro 11, 2005

ix: passa por mim em olival de basto.

Foram os salários desse trabalho que pagaram as gotas para os olhos e a prótese da perna que Mariema tanto precisava. Era difícil jogar às damas só com uma perna. Não obstante, Mariema era feliz a trabalhar naquele antro de pedofilia. Os recibos verdes não mentiam. Mas Mariema queria mais. O sonho de se tornar actor/actriz (o processo burocrático de mudança de nome ainda não acabara) continuava vivo. Desde sempre que sonhara em pertencer ao mundo do teatro. Lembrava-se de ser pequeno e ver os boxers do Carlos Quintas, enquanto este mudava de roupa em palco e dizia as suas falas. Mitos urbanos dizem que ele também dançava o fandango. Foi à luz desta lembrança que Zé Tó/Mariema resolveu ir à procura do sonho. Porque, já dizia o outro, o sonho comanda a vida e o mundo é uma bola nas mãos de uma criança. Demitiu-se do seu emprego e foi comprar uma miniatura da Ponte Vasco da Gama, para dela fazer um chapéu. Havia de conseguir entrar na revista “Passa pela Cocaína na Grande Noite da Linda Senhora Amália”, com as participações de Diogo Morgado no papel principal, Fernando Mendes, José Raposo, Maria João Abreu e Anabela no papel de bola de espelhos.

De chapéu na cabeça, partiu, então, para um local de meditação, um território inóspito, isolado do mundo, também conhecido como Olival de Basto. Foi aí, ao comprar uma lata de salsichas numa mercearia, que reparou que tinha amnésia. Decidiu ir a um médico que, apesar de licenciado, apenas falava ucraniano. No entanto, ficaram amigos. Mas Zé Tó, não percebendo a razão de usar um chapéu com a Ponte Vasco da Gama (ainda que lhe apetecesse dizer a alta voz e de braços erguidos: ‘Eu sou a Lisboa Nova!’), deitou-o fora. Diz-se que o chapéu ainda lá está. Abandonado. À espera de ouvir, pelo menos uma última vez, “SALVEM O PARQUE MAYER!”.

sábado, novembro 05, 2005

viii: o regresso.

nuno da câmara pereira (mais uma vez em minuscúlas) e Zé Tó cavalgaram em direcção ao Algarve onde passaram três meses de férias num T0 (isto é um zero, não se pretende afirmar que eles tenham repousado no interior de um sujeito chamado Tó). Saíram para o exterior apenas uma vez (para comprar uma pá e um ancinho) e passaram o tempo todo em roupa interior. Por várias vezes encontraram o Santo Graal. No dia 3 de Novembro Josélito aproveitou o facto de Nuno da Câmara Pereira estar a ver a actuação de Madonna nos EMA* para escapar do T0 no Algarve. Para Josélito aquele 3 meses foram a maior tortura da sua vida. O Top 5 das torturas de Zé Tó organiza-se da seguinte forma:

1 . 3 meses num T0 no Algarve com nuno da câmara pereira.
2 . 1 fim-de-semana em Benidorm com Anita Guerreiro e Maria José Valério.
3 . 3 horas com o elenco dos Mini-Malucos do Riso "on acid" na casa de banho do Califa.
4 . 7 minutos e meio com Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho no intervalo de mudança da algália.
5 . 1 dia passado na loja Casa Cheia do Bombarral com a Goretti de Psicologia.

Josélito apanhou o expresso em Albufeira e passado 3 horas e meia de viagem encontrava-se de novo em Lisboa, local onde toda a Odisseia se iniciou. A vida é uma bola, pensou. A vida é feita de encontros e desencontros. Nesse momento Zé Tó lembrou-se que Henrique Mendes morreu. Perguntou-se se Cristina Caras Lindas também tinha morrido mas olhou para o lado e viu-a de t-shirt amarela a vender a revista CAIS. Zé Tó ajoelhou-se aos pés de Cristina Caras Lindas e orou como nunca tinha orado na vida. Cristina agarrou numa seringa e mandou para a veia enquanto fazia os trocos de mais uma CAIS vendida. E foi assim que Zé Tó decidiu mudar o nome para Mariema e começou a trabalhar numa nova Petit Patapon para crianças que gostam de se vestir com roupas de cabedal.

*European Music Awards

terça-feira, julho 26, 2005

vii: O iluminado.

Foi então, no cenário de destruição desoladora do parque infantil de Sobral de Monte Agraço, enquanto jazia arrasado no chão frio e húmido, que Zé Tó viu surgir uma luz brilhante. "Outra vez o autocarro, não.", pensou. Mas não era um autocarro. Era o Nuno da Câmara Pereira que aparecia, com uma coroa na cabeça e um ceptro na mão. Estendeu a mão a Zé Tó. Não a do ceptro. A outra. Estendeu-a. A Zé Tó.

- Vem, meu amigo. Junta-te a mim nesta busca. – disse Nuno, enquanto pombas brancas voavam idilicamente à sua volta.

Com dificuldades, Zé Tó levantou-se, apoiando-se na sua única perna.

- Que busca é essa, Ó Iluminado? – perguntou Zé Tó, resignando-se à sua mortal condição.

Nuno olhou em direcção ao horizonte, enquanto anjinhos à sua volta tocavam harpa e cantavam a 'Avé Maria' de Schubert.

- Procuro o Santo Graal. – disse, a sua voz ecoando pelos vales e colinas de todo o mundo. Sinos tocavam ao longe. – Acompanha-me e serás recompensado pela tua bravura.

Como Zé Tó não tinha mais nada para fazer, foi com ele e juntos cavalgaram em direcção ao pôr-do-sol. Sim. Eles tinham cavalos.

sexta-feira, julho 22, 2005

vi: Criminalidade em Sobral de Monte Agraço.

Zé Tó abandonou para sempre o seu amigo e caminhou na direcção do Montejunto. Cajó nunca mais foi visto por ninguém. Rumores de que se transformou em artista emergente no panorama da música ligeira circulam abundantemente pelas esquinas de Bagdad. Zé Tó, MariCarmen para os amigos e Marisol para quem frequenta o café em frente à Rodoviária, chorou um pouco. Ele sabia que nunca mais iria ver o seu amigo. Sabia-o porque acabara de ser abalroado por dois meliantes que lhe escarafuncharam os dois olhos com uma Black&Decker. Depois desta verdadeira sessão de tortura, perpetrada ao som de Dai Li Dai Li Dai Li Dou dos Gemini, Zé Tó foi arrastado desde o local onde se encontrava até Sobral de Monte Agraço onde não se pôde deliciar com o parque infantil, que hoje em dia se encontra ao abandono e com um cheiro semelhante ao estúdio do Bueréré em final de programa. Enquanto os meliantes continuavam a torturá-lo Zé Tó conseguiu ouvir um som vindo do ar...Dance...nothing left for me to but dance... Seria nuno da câmara pereira (sim, com minúsculas) a fazer uma versão dos Jamiroquai?!

segunda-feira, julho 11, 2005

v: a história do zé piscinas

- Olha quem está aqui! Então, Cajó, tudo bem?

- Olha o Zé Tó! Cá se vai andando. Ao pé-coxinho. E como é que vai isso, pá?

- Vai muito difícil, muito difícil. Tempos de crise, o governo não ajuda, tudo uma cambada de otários, é o que é. Havia de lá 'tar eu. 'Inda agora perdi uma perna à custa dos transportes públicos. Aumenta a gasolina, dá nisto.

- Pois, realmente, isso parece feio, pá. Olha, sabes quem é que morreu?

- Quem?

- O Zé Piscinas.

- Ah foi? Ah coitado…Morreu de quê?

- Um acidente muita estranho, pá. Ouvi dizer que acabou com dois garfos espetados nos olhos.

- Olha, podia ter sido pior. Foi uma morte santa. Ele tinha filhos, não tinha? E a mulher dele era uma boazona do caraças. Como é que ela 'tá?

- 'Tá boa. Vamos casar assim que a certidão de óbito 'tiver pronta.

- A sério? Parabéns.

- Pois é, pá. Olha, pá, tenho de ir andando. Foi bom rever-te, pá. Temos de combinar um dia p'a irmos beber um café, pá.

- Pois é, tem que ser. Vá, tchau.

- Tchau.

E cada um pulou ao pé-coxinho para seu lado.

iv: era uma perna, sff.

Zé Tó perdeu a consiciência e só a recuperou quando o autocarro da Barraqueiro Oeste se encontrava na Malveira. Zé Tó saltou do pára-choques do autocarro e aterrou no meio da A8. Naquele momento reparou não tinha uma perna. Portanto fez um inventário: uma perna, dois braços, uma cabeça, um Destak, uma cassete de música de forró. Nem tudo estava perdido. Zé Tó reparou também que no bolso das calças tinha um colete reflector homologado. Tratou de o colocar depressa não aparecessem os senhores que passam multas. Os senhores que passam multas, também conhecidos como senhores da boina ou senhores que andam aí às voltas, chegaram, como Zé Tó havia previsto, e não puderam implicar com ele apesar de estar no meio de uma auto-estrada sem uma perna. Zé Tó começou a arrastar-se até à beira da estrada onde encontrou um amigo de infância que estranhamente também estava sem uma perna.

sábado, julho 09, 2005

iii: a Manuela Moura Guedes e o destak

Enquanto isso, o esquilo tentava recuperar do desgosto amoroso. No fundo, ele já desconfiava da sua transformação num bovídeo. No final de contas, era impossível que a sua mulher fosse todos os dias assistir às gravações do 'Você na TV'. Às onze da noite. Era uma história que já começava a cheirar mal. Ainda que a sua mulher fosse uma doninha.

E Zé Tó caminhava. E durante horas, caminhou. Mas, inesperadamente, no momento em que atravessava a estrada, uma luz brilhante surgiu à sua frente, tão brilhante que mais parecia que a Manuela Moura Guedes tinha usado Colgate Branque-Active e estava a sorrir para todo o mundo ver. Algo caiu a seus pés. Aos de Zé Tó. Não aos de Manuela. Ela não estava lá. Foi uma comparação. Esqueçam a Manuela. Estamos a falar do Zé Tó. E algo havia caído a seus pés. Algo que mudaria a sua vida para sempre. Era o 'Destak' do dia. E exactamente no momento em que Zé Tó se baixou para o apanhar, um autocarro do Grupo Barraqueiro apanhou-o a ele.

sexta-feira, julho 08, 2005

ii: A dicotomia Zé Tó/Esquilo.

O pacote de Doritos tinha lá dentro um pequeno esquilo amarelado que se agarrou à cabeça do Zé Tó e que tentou escarafunchar-lhe os olhos. Zé Tó sentiu que aquele momento podia ser o último momento de vida então ganhou forças e soltou o grito mais efeminado que conseguiu. Com o grito, o esquilo sofreu um pequeno enfarte e morreu. Mas depois levantou-se e foi para casa porque o Professor Zambu, que dá consultas em Barcarena e resolve problemas de qualquer tipo inclusivamente macumbas, amarrações e fetiches com algemas, ressuscitou-o com a ajuda de um Xanax e de um DVD da Família Galaró. O esquilo, amargurado, regressou a casa onde encontrou a sua mulher, uma doninha que ele encontrara numa discoteca para mamíferos no Paquistão, embrulhada com a toupeira Artur, que era amigo de infância do esquilo. Zé Tó continuou a sua caminhada enquanto entoava uma música que misturava Queen em sessão de espiritismo no Estádio do Restelo com música tradicional húngara. Chegou a uma encruzilhada e pensou: a vida humana existe ou serei eu o novo Messias?

i: a importância de um pacote de Doritos.

Zé Tó corria. Corria desesperadamente. Mas corria como ninguém havia corrido antes. Nem Francis Obikwelu correria assim mesmo que isso significasse o aumento do PIB da Nigéria. Mas a verdade é que Zé Tó corria. Muito. Mesmo muito. E a correria era tanta que a própria vida de Zé Tó corria perigo. E naquele momento, Zé Tó viu toda a sua vida a correr-lhe à frente dos olhos. E continuava a correr. Passou pela Luísa que, cansada, subia a calçada e por um pacote de Doritos que estava no chão. Parou. Pegou no pacote e colocou-o na cabeça. Assim passaria despercebido na rua. Já não seria preciso correr mais. Mas algo aconteceu.

Prefácio

*inserir sinfonia 'Also Sprach Zarathustra' de Strauss (também conhecida como a música do filme '2001: Odisseia no Espaço') aqui*

Vai fazer-se história. Algo nunca antes visto no mundo da web. Dois blogs. Duas pessoas insanas. Uma história. A maior epopeia deste século, quiçá deste milénio. Uma odisseia, tanto pela presença de um herói e respectiva descrição das suas aventuras mirabolantes como pelo tempo indeterminado que vai demorar a ser escrita.

Os capítulos serão alternadamente escritos por anaoj (capítulos ímpares) e eumesmo (por exclusão de partes, os capítulos pares) e publicados originalmente nos seus respectivos blogs, n'O da Joana e no Primavera no Chumbo do Matraquilho.