terça-feira, julho 11, 2006

xiii: aqui o estacionamento é livre.

Ao chegar a Sta. Apolónia, Zé Tó parou. Parou porque as duas ex-freiras em cuecas e o senhor de barbas e túnica branca (e sandálias) que carregava nos braços um anão que não era maior do que uma colher de pau pararam. Zé Tó, intrigado, mas sem largar o machado, dirigiu-se a eles e perguntou-lhes delicadamente porque haviam parado. Eles não responderam; ao invés, arrancaram-lhe o machado da mão e começaram a desancar nele. No Zé Tó. Não no machado. Isso não faria sentido. Idiota, porque raio pensaste que seria no machado? ‘Tás parvo(a)?

Zé Tó levou uma sova da qual não se iria esquecer tão cedo. Não tanto pela gravidade das feridas, mas pela situação caricata de que estava a ser alvo: duas ex-freiras em cuecas pontapeavam-no enquanto um homem de túnica branca e sandálias arremessava contra ele um anão de nome Tadeu, pouco maior que o Marques Mendes.

Após duas horas, o homem de sandálias, o anão e as duas ex-freiras em cuecas desistiram de bater no pobre Zé Tó e decidiram ir para o Elefante Branco, onde ficaram durante duas horas, altura em que o Corpo de Intervenção chegou com o propósito de fazer uma rusga.

Quanto a Zé Tó, este estava no chão. Com a vista enevoada, pareceu-lhe ver um vulto feminino. Era Ana Malhoa. Ela ajoelhou-se perto dele e colocou a sua mão no dedo mindinho de Zé Tó. Subitamente, ela desapareceu e Zé Tó estava curado. Levantou-se. Até a perna lhe tinha crescido de volta. Compôs-se: atirou a prótese para o lixo, ajeitou a gravata e limpou a espuma que saía da sua boca. Olhou em redor e reparou que um homem se aproximava.

- Ora boa tarde, são dois contos, se fizer favor. – disse o homem.

Zé Tó ficou embasbacado, a olhar para este homem.

- Dois contos, por obséquio. – repetiu o homem que retirou uma laranja do bolso e a começou a descascar.

- Porquê? – perguntou, finalmente, Zé Tó.

- Está só de passagem e esta estação pertence ao outro jogador. Se fizer favor… - pediu o homem, estendendo a mão.

Zé Tó percebeu. Começou a fugir. Passou pela Rua Augusta e pelo Rossio, só parando na Avenida Fernão de Magalhães. Viu que vinha um outro homem atrás dele.

- Ó home’! Tome lá os seus dois contos da Partida!

Zé Tó recebeu os dois contos, ainda que os tivesse de devolver de imediato ao senhor de Sta. Apolónia. Felizmente a Avenida onde ele se encontrava não pertencia a ninguém. Zé Tó comprou-a ele mesmo. Três voltas depois, comprou o Campo Grande e construiu um hotel. Por duas vezes, teve de ir para a prisão, de onde saiu de ambas as vezes devido a um double de três.

Zé Tó tornou-se, assim, um empresário de sucesso. Mas um dia, parou para pensar. Quem seria o seu adversário, adversário esse que parecia possuir todas as estações assim como a companhia de electricidade e a companhia das águas? Porque nunca lhe tinha calhado um double de setes? Porque nunca lhe tinha saído uma pergunta sobre Artes & Espectáculos?