segunda-feira, fevereiro 16, 2009

xxvii: mais vale um ovo Fabergé na mão que dois a voar.

"Manuela Ferreira Leite: uma Vida, uma Permanente" era a peça que impedia Zé Tó de continuar no seu refúgio. E porquê? Porque toda a gente sabe que é impossível ver a cara de Manuela Ferreira Leite ao perto sem entrar em combustão espontânea. Foi com um sentimento de pena que Zé Tó teve de abandonar aquele espaço a que chamou lar durante tanto tempo. "Por outro lado," pensou, "também já cansam as piadas sobre o La Féria".

Zé Tó não saiu dali, no entanto, sem levar uma recordação: um ovo Fabergé que um dos seus companheiros esqueletos segurava com as suas mãos fininhas, que mais pareciam pele e osso, excepto que já não tinham pele. Saiu do Politeama e enquanto se habituava à luz do dia que não via há meses, pensava no que ia fazer a seguir. Depois de tudo o que já passara, Zé Tó apercebeu-se que não iria conseguir encontrar a sua irmã gémea sozinho. Portanto, decidiu ir à Loja do Cidadão, que até era já ali e onde talvez o pudessem ajudar.

- Ora boa tarde, eu queria comprar um cidadão, se faz favor. - pediu Zé Tó, enquanto coçava a sua barba de 26 dias, o tempo que esperou para ser atendido.

- Esse assunto não é comigo. O senhor tem de se dirigir ali ao meu colega, no balcão ao lado. – respondeu a funcionária que procurava no teclado do computador a tecla Enter.

- Boa tarde, queria comprar um cidadão. – pediu Zé Tó novamente, desta feita ao colega do lado, que por razões óbvias, já não estava ao lado, mas à frente de Zé Tó.

- Ó meu amigo, o senhor não pode comprar cidadãos, isto aqui é para tratar de documentos importantes.

- Ó diacho, então mas isto é a Loja do Cidadão e não vendem cidadãos? Isso é publicidade enganosa! É o mesmo que uma loja de ferramentas vender alfaces!

E foi só depois de uma grande discussão, a qual concluiu com a ideia de que alfaces até poderiam ser usadas com lixas, que Zé Tó decidiu vir embora. Percebeu que arranjar um sidekick, o seu Robin, o seu Chewbacca, o seu Babalú, ia ser mais difícil do que pensava. Mas o destino tem destas coisas que nos surpreendem, - como, já diz o anúncio, a diarreia que pode aparecer nos momentos mais inconvenientes - e foi em plena praça do Rossio, ainda de ovo Fabergé na mão, que Zé Tó viu o seu deus ex machina.