terça-feira, agosto 08, 2006

xix: terão o homem de capa negra da sandeman e a mulher gorda acasalado?

Foi perante uma grande audiência, que Zé Tó fez uma das suas maiores actuações de sempre. No fim, até recebeu uma ovação de pé. Zé Tó agradeceu e fez uma vénia. Foi então que os seus olhos, roubados a uma criança como se fossem chupa-chupas, caíram, saltitando e rolando pelo chão até acabarem numa sarjeta. A verdade é que os olhos eram demasiado pequenos para encaixarem devidamente nas suas cavidades oculares. Zé Tó partiu então à procura dos seus antigos olhos às apalpadelas, mas em vão. Desistiu dessa sua busca e decidiu comprar um olho de vidro e uma pala que estavam em promoção numa banca daquelas que se vêem à beira da estrada como quem vai para o Algarve pela estrada velha não pela auto-estrada que por aí já não se vê nada uma pessoa vai é a duzentos à hora nem parece que está de férias porque uma pessoa que está de férias quer é ir devagar para ver a paisagem e os camionistas peludos que exibem os seus fios de ouro, galhardetes do Benfica, posters de mulheres nuas e luzes de Natal enquanto estacionam as suas máquinas no parque de estacionamento do restaurante no Canal Caveira.

Zé Tó, viu-se assim, através de uma digressão literária, transportado até ao Baixo Alentejo, a caminho do Algarve, esse antro de turistas estrangeiros que fazem nudismo e prendem os filhos com trelas. Foi ao chegar à linha ténue que divide o Alentejo do Algarve, que Zé Tó reparou que o homem de capa negra da Sandeman já não estava lá.

“O mundo é efémero.”, pensou. “Para onde terá ido o homem de capa negra? Que caminhos tomou? Terá casado e tido filhos? Pequenos seres de olhos esbugalhados e de capa negra em número suficiente para formar uma tuna?”

Nisto, ouviu-se ecoando ao longe, ainda que nitidamente:

“A mulher gorda a mim não me convém
o me convém
Não me convém…