quinta-feira, setembro 21, 2006
xxii: Gerontofilia, silêncio, calma
Feitiçaria da tua alma
Passo a passo, sem ter medo
Abrimos, soltámos o nosso segredo.
Se Zé Tó parasse naquele momento, a meio caminho entre o Perigo!, que já tinha deixado para trás juntamente com um cotonete, e a Morte! sabia que não chegaria a Vila Velha de Rodão à hora da festa popular. Não teria direito à tradicional sopa do cozido nem à típica fritada de carne de rameira. Nem poderia atirar uma pedra no espectáculo de apedrejamento da mulher adúltera. Foram estes pensamentos que o fizeram acelerar o passo em direcção à terra da felicidade, onde o homem pode espancar uma mulher, onde o Homem pode ser mulher, e homem, ao mesmo tempo. Mas não era facilmente que se passava pela Morte!. Atrás das casinhas dos souvenirs ou recuerdos (depende do grau de bimba e pimbalhice) escondiam-se velhas sedentas não de sangue nem de ouro mas sim de sexo. A Morte! era mais lasciva e luxuriante que um bordel da Avenida Duque de Loulé a partir das 22 horas e Zé Tó sabia-se incapaz de resistir às ancas flácidas e repugnantes das velhas que se bamboleavam semi-nuas ao som de um remix de Shakira com Rita Guerra ("As Hips do Cavaleiro Andante don't Lie"). Mas foi a aparição de uma idosa vestida de samarra (apenas) que o fez desistir da ida para Vila Velha de Rodão, das suas meretrizes fritas e das suas mulheres devassas apedrejadas com pedrinhas pequeninas. Muitas. Era o olhar de carneiro bem morto (ela aparentava 200 anos) e a saliva que escorria pelos cantos da boca que fascinaram Zé Tó. Até porque ele sempre tinha achado, enquanto comia a papa e assistia ao programa do Avô Cantigas, que a avó dele era uma boazona.